1. Deixe Entrar Um Pouco D'água no Quintal
(Sergio Dias / Liminha / Ruy Motta)
2. Pitágoras
(Túlio Mourão)
3. Desanuviar
(Sergio Dias / Liminha)
4. Eu Só Penso Em Te Ajudar
(Sergio Dias / Liminha)
5. Cidadão Terra
(Sergio Dias / Liminha)
6. O Contrário de Nada É Nada
(Sergio Dias / Túlio Mourão)
7. Tudo Foi Feito Pelo Sol
(Sergio Dias)
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Sem Rita e Arnaldo, Os Mutantes deram continuidade a sua fase progressiva, já assumida no disco anterior "OAEOZ" de 1973 (que só foi lançado vinte anos após a gravação). Após conversas entre os integrantes, resolveram chamar a banda agora apenas de Mutantes.
"Tudo Foi Feito Pelo Sol" (1974) foi o sexto álbum da icônica banda brasileira. Contando apenas com o guitarrista Sérgio Dias da formação original, o disco traz um conceito a cerca das teorias filosóficas do Uno, mesclada com referências da contracultura - uma obra prima da lisergia tupiniquim influenciada pelo rock progressivo inglês dos anos 70.
Mesmo sem a presença dos membros originais Arnaldo Baptista e Rita Lee, o álbum foi o mais vendido da carreira dos Mutantes, segundo Sérgio Dias.
Sérgio Dias: guitarras, vocais e cítara.
Túlio Mourão: piano, órgão, MiniMoog e vocais.
Antônio Pedro de Medeiros: baixo e backing vocals.
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A TEORIA DO UNO E O DEUS SOL
Em várias sociedades humanas, egípcios, gregos ou maias, por exemplo, o homem volta e meia cultivou a idéia de que o Sol seria o grande Deus, ou um Deus entre outros.
Giordano Bruno em, "De l’infinito universo e mondi" e "De la causa, principio e uno" (ambos livros de 1584), defendeu teorias filosóficas que misturam um Neo-Platonismo místico e panteísmo.
Acreditava que o Universo é infinito, que Deus é a alma universal do mundo e que todas as coisas materiais são manifestações deste princípio infinito. Para Bruno, o homem jamais poderá conhecer Deus, posto que ele está além da capacidade do pensamento humano. Poderá, quando muito, conhecê-lo por seus vestígios, os quais se mostram no universo, razão pela qual mesmo esse conhecimento é precário, vez que o homem quase nada conhece do universo.
Para Plotino, por exmeplo, a idéia do Uno, é um modo de enxergar o Universo. Tudo é Uno, pois, tudo faz parte de uma única coisa. Há algo do campo metafísico e químico que une toda a existência, seja ela viva ou não. E aquilo que emana vida, e é a origem de toda vida que possa haver no Universo, é a luz que sai de um astro luminoso e se espalha para tudo à sua volta; as estrelas; o Sol.
Essa relfexão filosófica nos desprenderia a respeito de questões mundanas, transcendendo a nossa própria noção de Ser, de substância e de morte - fazemos parte de algo que vai além de todas as coisas que conhecemos, é infinito e imaterial. É o Uno que gera e conserva todas as coisas ilimitadamente. Nós não conseguimos entender, chegar até a essência do Uno, manifestar ou representar essa idéia, que o cristianismo e tantas outras religiões apropriara como "Deus".
A idéia de chamar o Sol de Deus é uma subversão, pois o Sol em si é apenas mais uma estrela que faz com que os seres vivos existam. Não há uma lógica em relacionar a palavra "Deus" à uma figura que tem um propósito, que pensa, que julga - a idéia de Deus aqui, é simplesmente aquele que torna possível a vida - uma concentração de energia que emana, seja de maneira química ou metafísica, a luz que possibilita a vida no planeta Terra. O Sol não é Deus, todavia, em nosso planeta, tudo foi feito pelo Sol.
Mas os próprios Sóis possíveis no Universo têm um certo tempo de "existência"; em algum momento, a estrela "morre". É aí que entra a questão do Uno no universo. Mesmo que uma estrela se apague, e com isso, seus sistemas solares percam vida, ainda haverá vida no Universo, pois existem outras estrelas, que emanam luz e possibilitam a vida. E, segundo essa teoria, haveria uma conexão metafísica inevitável entre todas as estrelas e os seres vivos do Universo.
A própria teoria budista mistura a noção de Deus com a Natureza e introduz o princípio do "caminho do meio" onde é quebrada essa idéia de um Deus julgador, com um propósito, mas que a própria Natureza dos atos seria uma espécie de "julgamento" ou "direcionamento". Essa idéia de Deus então, não existe como uma figura separada, mas estaria presente e emanada em toda forma de vida na Natureza; e essa Natureza na sua essência, não existiria sem o Sol.
INFLUÊNCIAS MUSICAIS
"Antes da gravação do disco ouvimos o "Close to the Edge" na íntegra" DIAS, SérgioO disco é uma ode ao Rock Progressivo. Claramente, Sérgio, Túlio, Antônio e Rui, haviam mergulhado de cabeça no universo do Prog.
Yes, Emerson, Lake e Palmer, King Crimson, Pink Floyd são exemplos de bandas britânicas que mais fizeram a cabeça dos músicos brasileiros na época da composição das músicas e que levavam um Progressivo Sinfônico que dialoga com o Space Rock.
Uma curiosidade interessante, é que o disco foi gravado em apenas um único dia. E os músicos haviam se deliciado com o clássico "Close to the Edge" momentos antes de entrarem no estúdio - o dedo do Yes é o mais visível na influência das composições.
A fórmula propõe uma mistura de momentos eufóricos, onde há um certo "caos organizado" sempre banhado de solos de guitarra ou moog acompanhados de um certo groove levado pelo casamento do baixo e da bateria. Esses momentos mais pesados, lisérgicos volta e meia são quebrados nos imergindo em momentos de relaxamento, tanto nos momentos da "cama" quanto nos momentos influenciados pela onda "zen", mais hippie.
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