segunda-feira, 16 de maio de 2016

A rebelião das massas (1926)

A obra de José Ortega Y Gasset contrapõe-se ao individualismo. Ortega, de modo provocativo, procura induzir à reflexão crítica acerca. é um homem de constatações. E as defende com argumentos sólidos. Porém, em poucos momentos foi totalmente conclusivo. Ortega deixou abertura para que possamos repensar as idéias que defendeu em seus dias, adaptando-as ao nosso tempo e ao futuro.



Ortega faz uma confissão sobre a influência da filosofia de Kant em sua vida e obra: "Durante uma década vivi no mundo do pensamento Kantiano: eu o respirei com uma atmosfera que foi, ao mesmo tempo minha casa e minha prisão (…) Com grande esforço, consegui evadir-me da prisão kantiana e escapei de sua influência atmosférica"
Referindo-se ao poder do dinheiro, minimiza seu significado e afirma: "É talvez, o único poder social que ao ser reconhecido nos repugna".
Sobre o poder social e efeitos da violência: "ela mesma (violência) nos parece um sintoma de saída, um magnífico atributo do ser vivente, e compreendemos que o grego a divinizava em Hércules".

Discutindo o fato de que os antigos gregos expressavam um certo desprezo pelas mulheres, acaba por concluir que estas acabaram se masculinizando - se para os psicanalistas e filósofos contemporâneos, o século XXI é o século da feminilização - estariam então, os homens se feminilizando?


Sobre seu pensamento, tinha plena noção de que tudo que se escreve é datado, porém datado não quer dizer obsoleto, pelo contrário: "o assunto em que trata é demasiado humano para que pudesse escapar à ação do tempo. Há sobretudo épocas em que a realidade humana, sempre instável, se precipita em velocidade vertiginosa. Nossa época é dessa classe porque é de decidas e quedas. Muito do que nele se enuncia foi logo um presente e já é um passado."
Ortega tenta a todo custo sair de lugares comuns e ironiza a si mesmo: "… A obra de caridade mais adequada a nosso tempo: não publicar livros supérfulos. Eu fiz tudo que me foi possível em tal sentido, mas me fizeram ver que o organismo das idéias enunciadas nestas páginas não corresponde".






"A vida pública não é só política, mas ao mesmo tempo e ainda antes, intelectaul, moral, religiosa; compreende todos os usos coletivos e inclui o modo de gozar e as culturas" 

"Surpreender-se, estranhar, é começar a entender. É o esporte e o luxo do intelectual. Por isso sua atitude consiste em olhar o mundo com os olhos dilatados pela estranheza. Tudo no mundo é estranho e é maravilhoso para umas pupilas bem abertas."


VII "VIDA NOBRE E VIDA VULGAR, OU ESFORÇO E INÉRCIA"


Ortega distingue o homem entre massa e minorias - e por sua vez temos o homem-massa de um lado, e de outro o homem-excelente ou o homem-vulgar; ele diz que o excelente é aquilo que exige muito de si mesmo, e o vulgar é aquele que não exige nada de si, apenas contenta-se em o que é e está encantado consigo mesmo (não se trata de uma relação de superioridade/inferioridade).

"Enquanto no passado viver significava para o homem médio encontrar a sua volta dificuldades, perigos, escassez, limitações de destino, o mundo novo apareceu como um âmbito de possibilidades praticamente ilimitadas, sem dúvida, onde não se depende de ninguém." (…) ""Se a impressão tradicional dizia: "viver é sentir-se limitado e, por isso mesmo, ter de contar com o que nos limita", a voz novíssima grita: "viver e não encontrar limitação alguma; portanto, abandonar-se tranquilamente a si mesmo. Praticamente nada é impossível, nada é perigoso e, em princípio, ninguém é superior a ninguém"
"O homem vulgar nunca havia crido ter "idéias" sobre as coisas. Ele sempre teve suas crenças, tradições, experiências, provérbios, mas não se imaginava de posse de opiniões teóricas sobe o que as coisas são ou devem ser" 
"Hoje, pelo contrário, o homem médio tem as "idéias" mais taxativas sobre tudo quanto acontece e deve acontecer no Universo. (…) Por isso o uso da audição. Para que ouvir, se já têm dentro de si o que necessita? Já não é época de ouvir, mas, pelo contrário, de julgar, de sentenciar, de decidir. Não há questão de vida pública em que não se intervenha"cego" e "surdo", impondo suas "opiniões ". Mas seria isso uma vantagem? Não representa um progresso enorme que as massa tenham "idéias", quer dizer, que sejam cultas? De maneira alguma. As "idéias" deste homem-médio não são autenticamente idéias, nem sua posse é cultura. A idéia é um xeque-mate à verdade. Quem queira ter idéias necessita antes dispor-se a querer a verdade e aceitar as regras do jogo que essa tal verdade imponha."
"Perpetualmente o homem tem recorrido à violência: às vezes este recurso era simplesmente um crime, e não nos interessa. Em outra era a violência o meio a que recorria a quem havia esgotado todos os demais para defender a razão e a justiça que cria ter. Será muito lamentável que a condição humana leve volta e meia a esta forma de violência, mas é inegável que ela significa a maio homenagem à razão e à justiça. Tal violência não é outra coisa senão a razão exasperada."


XIII - "O MAIOR PERIGO, O ESTADO" 


Este é o maior perigo que hoje ameaça a civilização: a estatificação da vida, o intervencionismo do Estado, a absorção de toda espontaneidade social pelo Estado - a massa diz a si mesma: "o Estado sou eu", o que é um perfeito erro. Mas o caso é que o homem-massa crê, com efeito, que ele é o Estado, e tenderá cada vez mais a fazê-lo funcionar a qualquer pretexto, a esmagar com ele toda minoria criadora que o perturbe - que o perturbe em qualquer aspecto: política, idéias, indústria.
"O Estado é uma técnica de ordem pública e de administração - o enorme desnível entre a forca social e a do poder público tronou possível a Revolução, as revoluções (até 1848). Mas com a revolução apossou-se do Poder público a burguesia e aplicou ao Estado suas inegáveis virtudes, e em pouco mais de uma geração criou um Estado poderoso, que acabou com as revoluções. Desde 1848, quer dizer, desde que comeca a segunda geração de governos burgueses não há na Europa verdadeiras revoluções. E não certamente porque não houvessem motivos para elas - colocou-se o poder social no poder público! Adeus revoluções para sempre!"

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